quinta-feira, 18 de junho de 2009

A arte e o vandalismo


Grafiteiros querem desvincular sua imagem à dos Pichadores que desafiam as autoridades
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Os grafiteiros, que, por muito tempo, foram considerados vândalos pela sociedade, estão tentando desvincular a imagem do grafite à da pichação. Eles estão fazendo isso de uma forma simples: demonstrar à sociedade o grafite como ele realmente é, ou seja, uma arte. “Isto está sendo feito através de eventos culturais, exposições e trabalhos ao ar livre em lugares de fácil visualização para que todos possam apreciar a arte sem custo algum”, explica a grafiteira Anny Sousa.
Segundo ela, os grafiteiros vêm apresentando seus trabalhos em lugares públicos. “Assim, passamos a inseri-los no dia a dia das pessoas e fazemos com que a sociedade tenha uma fácil compreensão sobre a diferença entre grafite e pichação”, acrescenta a grafiteira.
A grafitagem é uma arte oriunda das pinturas rupestres. Praticada no Brasil desde a década de 80, está relacionada ao movimento Hip Hop, que nasceu na periferia de Nova Iorque, nos anos 60. Apesar de ser confundida com pichação, a grafitagem, muitas vezes, tem o objetivo de combater a pichação. “O grafite, geralmente é praticado em lugares que seriam alvos fáceis de pichadores e com a autorização dos donos de estabelecimentos e das autoridades”, afirma a artista plástica Neila Ribeiro. Segundo ela, pelo código de honra firmado entre os grupos, não se faz pichação em locais onde existam as grafitagens. “Isso inibe a ação dos pichadores”, completa.
A pichação é, muitas vezes, confundida com a grafitagem pela sociedade.Embora parecidos devido à grande dificuldade de identificar o que está escrito ou desenhado nos muros, há uma grande diferença entre ambas.
Considerada um ato de vandalismo, a pichação é realizada sem autorização dos proprietários dos imóveis e tem como objetivo escrever o nome do autor ou gangue, por meio de letras ou de sinais muitas vezes indecifráveis, em muros ou prédios. “Quanto mais arriscado, maior o ibope”, descreveu o pichador Daniel, de 25 anos, que assina o nome de Reprise.
A mais recente arma contra a ação dos pichadores é a lei nº9.605/98 dos crimes ambientais, que estabelece punição de três meses a um ano de cadeia, além de pagamento de multa. Até mesmo o grafite que for feito em muros de propriedade particular ou pública sem a devida autorização poderá ser enquadrado no referido artigo e sofrer as mesmas penalidades. “Não é por ser considerada uma arte que a grafitagem tem o direito de ser feita em qualquer lugar e a qualquer momento”, explica Neila.
Os pichadores agem, normalmente, na madrugada, pois quase todo o comércio está fechado e a movimentação de pessoas é menor nas grandes avenidas. Com o fraco movimento nessas vias, fica fácil escolher os melhores lugares e até mesmo a maneira de entrar em determinado prédio para pichar.
Daniel afirma que, em 11 anos como pichador, já subiu em mais de 500 prédios de São Paulo (SP), alguns com mais de 10 andares. Nunca foi preso. “No máximo voltei para casa com algumas marcas no corpo, devido à surra aplicada por policiais, e com o corpo todo cheio de tinta”, relata.
Neste período, já perdeu vários amigos envolvidos em guerras de gangues de pichadores ou em acidentes no exercício da pichação. Questionado se não pensa em largar esta vida, ele afirma não parar tão cedo, pois “adoro a adrenalina que sinto quando estou pichando”.
A psicóloga Corina Sales comenta que o comportamento de alguns destes jovens se deve a algum tipo de privação que possam ter sofrido ainda quando criança. “Essa privação pode ter criado alguma barreira no comportamento do jovem, que, ao cometer este tipo de vandalismo, visto por ele como nada mais que uma diversão, passa a considerar tal ato como uma forma de resgatar o que lhe foi privado”, analisa a psicóloga.
Muitos usam a pichação não só como forma de “diversão”, mas, também, para chamar a atenção das autoridades. E mesmo correndo o risco de serem presos ou até mesmo de perderem a vida. Os pichadores entrevistados afirmam que não vão parar.

Por Sivanilto Cruz

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