quinta-feira, 18 de junho de 2009

Malabares do asfalto

Os sinais de Brasília foram tomados por bolas, bastões e claves de fogo. O que pouca gente sabe, é que domar os malabares, exige além de talento, profissionalização
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Durante um minuto e dez segundos, Vinícius Resende, 20 anos, apresenta o seu espetáculo. O palco são os sinais do centro da capital federal. Lá, ele manipula suas cinco bolinhas. E seus braços parecem multiplicar-se numa orquestrada sinfonia de movimentos, equilíbrio e observação. Os truques não podem demorar, para dar tempo de passar o chapéu, coisa que o próprio artista faz. As apresentações seguem assim durante quatro horas, sete dias por semana.
Assim como ele, virou cena comum flagrarmos malabaristas nas extensões das asas sul e norte. E tem um motivo, Brasília virou referência para esse grupo. Malabaristas de outros estados vêm trabalhar aqui por se tratar de uma cidade com um alto padrão de vida. Essa região é famosa por reunir maior número de contribuintes.
Vitor Fernandes de 22 anos, malabarista há 10, e morador da asa norte, teve o apoio dos pais. Não sofreu discriminação em casa, mas sofreu na rua. “Fui parado no aeroporto na época do Pan-Americano no Rio, passei pela máquina identificadora de metais, e ela apitou. Uma funcionária me barrou por eu estar carregando na bolsa bolinhas de acrílico para malabares. Me destratou e a todo tempo incitava que estaria armado, tive que chamar a polícia para embarcar” relata.
Vini relata ter sofrido uma discriminação mais perversa. “Já me xingaram de vagabundo e de outras coisas mais.Mas nunca revidei, encaro com todo o respeito que um artista deve ter com o seu público.Essa é a opinião deles.Mas geralmente sou aplaudido de dentro dos carros, ou dão uma buzinada.Uma vez, um carroceiro me deu um real.O reconhecimento é o que realmente conta”conclui.
O que poucas pessoas imaginam é que esses artistas são bem informados, tiveram acesso a escola, cultura e a maior parte deles mora no plano. Muito ao contrário dos rótulos de desocupados e vagabundos que costumam levar. “Somos artistas, assim como um cantor, um ator ou um pintor, e isso, é sim uma profissão” ressalta Vini.
O mercado para os malabaristas é escasso e por isso optam pelos sinais.
Miguel Still, 21, anos é um dos colaboradores do encontro semanal de malabares, que acontece no espaço Renato Russo na 508 sul. Ele começou aos 11 arriscando alguns truques, mas só aos 14 se profissionalizou. Aos 21, começou a depender diretamente do sinal. Sua família o apoiou, mas o abandono dos estudos no 1° ano do ensino médio, não agradou muito.
Still é carioca e faz parte da leva de malabaristas que migraram para o centro- oeste. “Mudei para cá, pois sabia que mesmo sem conseguir trabalhos particulares em festas, eventos ou shows teria como me sustentar com o sinal. Brasília é um dos melhores lugares do país para fazer sinal!” analisa.
Ele ainda conta que as dificuldades da profissão o fizeram pensar em partir para outros ramos, mas em paralelo com a sua arte. Entretanto, a paixão pelos malabares falou mais alto, “por ser complicado conciliar as duas coisas, optei por continuar no sinal. Abandonar minha arte eu nunca pensei!”ressalta.
Still admite que parte do preconceito das pessoas é criada pelos próprios malabaristas, “pois há vários malabaristas que não se valorizam. A falta de profissionalismo de alguns acaba "queimando o filme" de quem leva a sério essa profissão”finaliza.
Motoristas x Malabaristas
Sâmella Santos, 30, anos pára todos os dias no sinal da 313 norte por volta das 19:00 horas e já contribuiu com malabaristas.”Vejo que nosso país ainda é muito atrasado quanto ao incentivo às artes.Acho lindo o que fazem.É uma pena não terem uma estrutura para a arte deles”comenta.
O médico aposentado Agenor Fernandes pensa diferente, “Não vejo isso como arte, ficar fazendo umas firulas na frente do farol, não considero nem como trabalho” diz.
O militar Celso Alves, 53 anos, vê nos jovens uma alternativa que não pedir.” Eu,sinceramente não sabia até pouco tempo atrás que isso era uma profissão.É melhor do que pedir. Eles estão nos dando algo em troca”opina.

Por Nirvana Lima

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