quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trotes Universitários


Violência e humilhação nas Universidades
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Foi aprovado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1023/95 que proíbe os trotes violentos ou vexatórios contra os alunos de ensino superior. De acordo com a Lei, os alunos responsáveis por esses atos podem levar multa de R$ 1mil a R$ 20 mil, suspensão do aluno por um a seis meses e expulsão. Nessa última, o aluno poderá ser impedido de se matricular na mesma instituição de ensino pelo prazo de um ano. A matéria segue para o Senado.
Pelo texto aprovado, fica proibido os trotes que ofendam a integridade física, moral e psicológica ou obrigue os estudantes a doarem bens ou dinheiro, salvo quando destinados a entidades de assistência social. O processo disciplinar seguirá as normas de cada instituição de ensino, assegurados o contraditório e a ampla defesa. No caso da multa, o dinheiro será usado na compra de livros para a biblioteca da Instituição.
O que deveria ser uma comemoração está se transformando em casos de violência e constrangimento. Diante disso, um dos autores da emenda substitutiva ao Projeto de Lei, o deputado federal Flávio Dino (PCdoB- MA) defende sua aprovação pelo Congresso o mais breve possível e ressalta que não se pode enxergar os fatos dessa gravidade como uma brincadeira juvenil. “Esse tipo de conduta só alimenta a cultura da violência em um ambiente que deveria ajudar a construir soluções para acabar com ela”. Ele argumenta ainda a falta de punição aos responsáveis por esses atos e acaba criando situações absurdas, em que o aluno torturado passa a estudar ao lado do torturador, o que o leva, muitas vezes, a abandonar a instituição pela ameaça e medo de novas agressões. Mas há divergências sobre o projeto. O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) questiona que o problema deve ser resolvido pelo amadurecimento do convívio universitário, e não por meio do rigor da lei. “Além do mais, já existem leis para punir os excessos” argumenta.
Um dos trotes violentos mais marcantes foi o que vitimou Edison Tsung Chi Hsueh, morto em 1999 por afogamento em uma piscina durante um trote brutal na faculdade de medicina da USP. Passaram-se dez anos após a morte do estudante e nenhum acusado foi condenado. Outros dois casos graves aconteceram neste ano. A aluna Priscila Vieira de 18 anos, grávida de três meses, teve queimaduras de 2° grau nas costas e nas pernas provocadas por uma mistura de solvente com gasolina e creolina, quando participava de um trote da Fundação Municipal de Educação e Cultura (Funec) em Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo. Para o calouro Bruno Cézar, aprovado em Medicina Veterinária na Faculdade Anhanguera em Leme (SP) a brincadeira foi mais longe. O estudante ficou em coma alcóolico e apanhou de chicote, ficando com marcas e dores por todo o corpo. O Deputado Federal Rodrigo Rollemberg (PSB – DF) ressalta que é importante punir com rigor os agressores de qualquer tipo de violência no trote estudantil. “É importante que se cobre das Universidades responsabilidade em relação a seus alunos, que internamente, elas também punam os que descumprem a legislação e promovem trotes violentos”, comenta.
Apesar de tantas tragédias, os trotes solidários incentivam os bons exemplos. Em Ponta Grossa – PR, o trote social é uma saudável tradição. Há dez anos, os estudantes reformam casas de famílias humildes, recolhem doações para pessoas carentes da comunidade e distribuem alimentos. Em Londrina, os calouros e veteranos organizam palestras e atividades esportivas. Em iniciativa dos próprios alunos da UnB junto com o DCE – Diretório Central dos Estudantes, eles organizam os trotes solidários na Universidade. A idéia este ano é visitar uma escola pública promovendo um dia de lazer, como atividades físicas, brincadeiras com palhaços, plantio de mudas. A intenção é que esses trabalhos não só aconteçam de seis em seis meses, mas que sejam contínuos no resto do ano.
A aluna Vanessa Lula do curso de Nutrição da UnB explica que trotes fazem parte, como jogar ovos, farinha e tinta. O problema é a bebida alcóolica. “Quanto a bebida, é complicado porque ninguém bebe se não quiser beber, mas às vezes o pessoal está animado demais e perde o controle”. Dentre vários casos relatados a aluna avisa: “ O trote deve servir para que o calouro interaja com o veterano e a Universidade, e não para humilhar as pessoas ou machucá-las”, ensina a estudante.


Por Juliana Maraschin

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