sexta-feira, 21 de agosto de 2009

RAUL SEIXAS - 20 ANOS DE UMA METAMORFOSE

Por Mário Lucena
Raul nasceu para a música. Cantando, preparou-se para a vida. Cresceu ouvindo Elvis Presley e outros grandes nomes do rock. Imitando seus ídolos fez sucesso em Salvador. Comunicava-se por meio da música. Tornou-se compositor. Criou o que chamou de iê-iê-iê realista. Fez sucesso na voz de Jerry Adriani e intérpretes da Jovem Guarda. Mudou-se em 1968 para o Rio de Janeiro e gravou seu primeiro disco. Foi um fracasso. Passou fome e desistiu da empreitada.
Quando voltou ao disco, em 1971, não ofereceu nada pronto ao ouvinte. Sua música questionava a vida e a morte, a existência, o mundo, o certo e o errado. Raul se questionava. Aos 21 anos deu a volta por cima, conseguindo tudo o que um homem comum poderia desejar: carro, apartamento, mulher, filha e emprego de executivo em multinacional. Morava no Rio de Janeiro, uma das cidades mais belas do mundo. Reconhecia tudo isso, mas "não era o que queria" (Eta Vida). Estava infeliz, pois seu querer era a música.
A metamorfose física ocorreu em 1972. Largou o cargo de executivo da gravadora CBS, deixou de lado o paletó e a gravata, deixou crescer cabelo e barba e voltou a imitar Elvis Presley em festival de música promovido pela Globo. Apresentou-se ao Brasil como cantor de rock, mas era muito mais. Outra metamorfose, ocorrida com a leitura de filósofos reducionistas, como Schopenhauer, havia transformado Raulzito em Raul Seixas. Imortalizou-o a sua autenticidade.
Em 1968 citou Schopenhauer na composição Trem 103: Consciente de voltar por onde vim. O trem, a composição, veículo da morte-renascimento, torna-se presença constante em sua obra. Aparece com destaque em 1973 (A hora do trem passar) e em 1974 (Trem das sete). Em 1989, ano de sua morte, Raul expressou o desejo de mudar a direção do trem (Carpinteiro do universo).
Nenhum parceiro, por mais criativo ou influente, desviou-o dos trilhos. Seguiu com coerência os passos da filosofia. Em alguns momentos citou Protágoras, Sócrates, Platão, Sartre, mas as principais fontes foram o hermético Crowley e o pessimista Schopenhauer. Ambos traziam o hinduísmo na veia, herdado por Raul. Na pele de Krishna cantou seu maior sucesso, Gita. De Crowley, Raul abstraiu a proposta místico-liberal. Levou-a ao público a partir de 1974 como Sociedade Alternativa. Mesmo sem a benção da censura, recitava os versos da Lei de Thelema ou Lei da Vontade (de Crowley e Schopenhauer) em meio ao refrão da Sociedade. A Lei só seria liberada em 1988 e, por sua causa, Raul se viu em apuros: preso, torturado e exilado pela ditadura.
Mosca na sopa é Schopenhauer (Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa). Mas para não deixar dúvida sobre a fonte mais rica, em 1983 pegou do filósofo um trecho do capítulo Morte, do livro Dores do Mundo, para usar em Nuit: Quão longa é a noite do tempo sem limites, comparada ao curto sonho da vida.
Raul era genial no que fazia, e conquistou uma legião de fãs exatamente por não ser egoísta. Compartilhava seu conhecimento sem medo. Tal como um herói mitológico foi ao inferno e voltou várias vezes. Encarnou o niilismo, Sísifo subindo e descendo a ladeira da fama. A angústia de morte era seu tormento. Sofreu à espera da dama de cetim. A morte teria sido triste se não tivesse retornado aos palcos e ao disco em 1989, na companhia de Marcelo Nova, para testemunhar a imortalidade.
Vinte anos após sua morte, Raul resolveu se revelar. Ivan Cardoso faz exposição com fotos inéditas; o produtor Marco Mazzola lança o kit CD + DVD no qual o artista canta gospel; Edmundo Leite, do Estadão, escreve uma biografia completa; Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel finalizam o documentário O início, o fim e o meio; a Globo prepara o especial Por toda minha vida; a revista Caros Amigos promete Edição Especial, e a Rolling Stone uma grande matéria; centenas de espaços culturais promovem atividades durante o mês de agosto para lembrar o cometa baiano. Raul está mais vivo do que nunca!
Mário Lucena é editor, jornalista, bacharel em Psicologia e conviveu com Raul Seixas em 1981 e 1982. É autor dos livros: "Raul Seixas - A verdade Absoluta" (2002) e "Raul Seixas - Metamorfose Ambulante" (2009).4.289 caracteres com espaço Vera Moreira - Assessoria de Imprensa11 3253-0586 / 3253-0729 / veramoreira@veramoreira.com.br

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